Essa é uma pergunta que ficou martelando na minha cabeça quando, enfim, fechamos as portas do Gafanhoto para o último NewsCamp do ano de 2008. Tem gente que ainda espera crachás, outros sofrem porque a transmissão não acontece como previsto e há quem ainda se assusta com tanta desorganização, despreparo…e ainda tem gente que chega a caracterizar certas tentativas como incompetência. O fato é que a informalidade, apesar dos inconvenientes, parece ser a força propulsora da produção multimídia no Brasil. É impressionante o volume de coisa boa que a galera produz na raça e com muito talento. Apesar das eternas perguntas, a conclusão é de que Multimídia é guerrilha!
E haja guerrilha solitária pra fazer as coisas acontecerem. A sensação é de que todo mundo está correndo atrás daquilo que ainda não tem competência pra fazer sozinho – ou com os poucos amigos que topam mergulhar na paixão do jornalismo pra fazer diferente. A maioria faz todo espetáculo na raça e, muitas vezes, apesar da busca insana, não encontra parceiros para compartilharem ou complementar aquilo que ainda falta. Rodrigo Savazoni citou as ilhas.
Ilhas do Conhecimento? Parece que quem corre atrás sozinho da inovação editorial, não tem tempo para colaboração. Outra sensação é de que a dependência da tecnologia exige sim dos jornalistas certa capacitação profissional técnica. No mínimo, para que os jornalistas aprendam a falar a mesma língua dos programadores. Ou até para interferirem na hora em que o conteúdo do código está sendo escrito sem o cuidado do editorial proposto…
Sim! Não tenho dúvida disso. São ilhas isoladas que, talvez, começam agora a comunicar entre si…
A transmissão ainda cai e alguém lembra que nossos filhos nunca vão entender como uma videoconferência (skype) poderia falhar nos dias de hoje. E assim o gostinho de fazer parte da história volta. Daniel Jelim, editor de projetos especiais do Estadão.com, não tem dúvida de que vivemos uma revolução. Será mesmo a grande virada?
Jelim diz que agora podemos salvar o jornalismo da burocracia e podemos tirar o crítico do seu pedestal e colocá-lo na âmbito humano. Quando ouço isso lembro que de manhã, naquela mesma sala, discutimos o quanto os jornalistas não querem se colocar como pessoa. O monopólio da fala ainda impera: Falo na hora em que eu quero e não na hora em que você grava os bastidores.
Como assim? Você está gravando agora? Mas estamos fora do ar? Sim e os bastidores também têm história, que está sendo transmitida justamente agora. Esse é o tempo real, não aquele do online onde editamos todos releases juntos pra ver quem coloca a manchete primeiro no ar.
Ninguém duvida de que algo diferente acontece agora. Quer uma prova? Responda-me: porquê estamos nós, jornalistas, trocando idéias, desconferenciando, fazendo perguntas a nós mesmos? Buscando nossos próprios espaços, reunindo vários blogs para fazer uma mesma entrevista, inventando novos modelos de produção?
Ouço de um deles, que é capaz de criar vídeos com coberturas jornalísticas de denúncia, que não domina muito a tecnologia, mas sempre há outros coletivos para ir se linkando, complementando, juntando e aprendendo, devagar, é verdade. Mas a integração começa. E quando a grande mídia poderá integrar com essa guerrilha que denuncia?
Não é apenas uma questão de tomada de decisão. Há também problemas técnicos pra conseguir juntar tanta coisa boa num só espaço. Além disso, existe um outro lado. Aquele perverso, que muita gente acredita que o próprio coletivo deve cuidar dele. Sem intervenção solitária.
Mas uma lição parece que está no ar: para lidar com o público é preciso distinguir o que é participação de colaboração? Eu não consegui ainda descobrir as diferenças de jornalismo participativo do colaborativo. Mas sei o quanto ambos verbos são complicados de estimular. Talvez, para participar, basta chegar, sentar e ouvir. Tudo está pronto. Você apenas precisa seguir as regras. Então, chega alguém e lhe diz: está preparado para participar? Você responde que sim, senta na cadeira e espera pra ver o que acontece…
Mas, para colaborar, exige esforço. É preciso, de certa forma, criar, inventar e quem sabe até descobrir a si mesmo. Não é coisa fácil. Eu arriscaria dizer que envolve paixão e, infelizmente, nem sempre nos apaixonamos por aquilo que faz diferença no mundo de hoje, que ainda não é predominantemente multimídia e muito menos feito de coletivos em ação.
Há quem diz, entretanto, que as empresas estão dispostas a pagar pela informalidade. Onde? Quando? Pra quem? Será mesmo que a crise motivará as organizações a investir em anônimos. Não sei. Tenho a sensação de que a ambivalência da rede reflete também no investimento da informalidade. Pode até ser mais ou menos, mas é bom que tenha uma marca. E criar marcas coletivas, num país cheio de lacunas como o Brasil, não é tão complicado, mas exige, sem dúvida nenhuma, talento e muita, mas muitaaaaaaaaaaaaaaaaaa coragem, garra e, principalmente, vontade de sair do mundinho quadrado em que vivemos. Isso é coisa pra poucos!
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