No último sábado (29/11) acordei às 5h30, com uma amidalite de doer na alma. Uma hora depois estava eu desembarcando no CEMA, hospital 24 horas especializado em ouvido, nariz e garganta. Mau pressentimento? Talvez. Remédios receitados e bora para o Espaço Gafanhoto.
O primeiro ponto negativo. Apesar das promessas de transmissão em tempo real de tudo que aconteceu por lá, quase nada funcionou. O livestream da oficina de RP não ficou no ar sequer um minuto. O de jornalismo multimídia precisou ser transferido para outro portal. Enfim, problemas técnicos, mas que desanimam. De qualquer forma, gostaríamos de agradecer a participação e contribuição de todos para a realização de mais um evento.
Como fui responsável pelo conteúdo de RP Digital, é sobre isso que vou falar. Em tópicos fica mais fácil para disparar o que consegui captar por lá. Sei que vou me esquecer de coisas importantes. Por favor, complementem nos comentários. Sei, ficou longo, mas se quiserem saber o que aconteceu, leiam:
Conceitos – ainda há muita discussão em torno do que realmente significa relações públicas digitais. No fundo, o termo é restritivo e precisa ser ampliado. É comunicação e ponto. Não importa a formação (PP, jornalismo, RP, administração, etc). E cada vez mais vai precisar entender outros conceitos que até então estavam bem distantes.
Capacitação – como vamos treinar as equipes dentro das agências para que a comunicação digital seja horizontal (e não vertical como vem acontecendo) se nós mesmos ainda estamos repletos de dúvidas em relação aos temas? O treinamento ainda é muito básico porque o nível de conhecimento sobre as ferramentas, no geral, também é muito baixo. Esse é um grande desafio. Será que esse pessoal estará fora do mercado em poucos anos por não entender isso tudo? Todos que participaram dessa primeira parte do debate sobre RP Digital concordaram que é preciso entender pelo menos o básico de tecnologia (SEO, por exemplo) para conseguir oferecer e gerenciar serviços de comunicação digital. Rene de Paula colocou lenha na fogueira. Acha que há um excesso de expectativas – criada inclusive e principalmente por quem vende os serviços. É preciso pensar mais no básico, no simples, no arroz com feijão em vez de ficar divagando e trabalhando com milhares de ferramentas nas quais o resultado será pífio.
Blogs corporativos – transparência é algo realmente complicado para as empresa brasileiras. Mas não só sob o ponto de vista de uma organização. Os próprios executivos não gostam e não querem assumir o que dizem, isso pode trazer riscos. É por esse motivo que blogs como o do presidente da Sun dificilmente serão criados aqui no Brasil. Esse medo leva a desenvolverem blogs corporativos de marcas (Carrefour, Tecnisa, Claro, Vivo). A discussão em torno da necessidade de se criar blogs corporativos para determinados segmentos também voltou à tona. Muitas empresas são vidraças puras e não deveriam utilizar esse recurso (blog) como canal de comunicação. Viram divulgadores de press releases e repositório de informação que não interessa aos consumidores. Muitos inclusive são criados mais por politicagem interna e interesses pessoais de determinados executivos, não há a real intenção de torná-lo um canal de comunicação com um público. Acho que o choque de gerações ainda emperra a adoção de muitos conceitos e ferramentas novos, porém, não tenho tanta certeza se essa nova geração conectada vai assumir os riscos ou bancar o próprio cargo na hora de tomar decisões ousadas.
Depois do almoço a conversa passou para o tratamento de blogs. Na verdade ela começou na parte da manhã e continuou à tarde:
Relevância – como um blog deve ser tratado: como mídia ou como consumidor? É claro que isso vai depender da estratégia adotada pela agência ou pelo cliente. A identificação de hubs não é tão simples quanto parece e, em geral, algumas grandes audiências se devem às “promoções” e não ao conteúdo. Aliás, esse (conteúdo) é o direcionador de ações mais citado. Não a audiência, como se pensava. Chegaram a citar algumas situações extremamente constrangedoras para executivos/empresas que foram questionados e criticados por blogueiros convidados pela agência. Ela realmente não sabia o que estava fazendo. Gilberto Pavoni foi enfático: “precisamos pensar em mídia social, blog vai virar bolha”.
Relação comercial – a mediação de relações comerciais (posts pagos, jabás, etc, tema mais que batido) pode ser feita pela agência de RP? Muitos torcem o nariz, mas por qual razão não poderia? Afinal, isso é feito com redações, com celebridades, etc?
Case – Juliano Spyer mostrou algumas ações realizadas para a campanha do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Relacionamento e aproximação direta e transparente foram os principais tópicos. Os números reais, que não foram mostrados, foram questionados por alguns participantes.
Uso de ferramentas digitais na comunicação interna foi o tema que encerrou a conversação – ficam aqui minhas desculpas pela correria e falta de tempo para expor mais detalhes de cada empresa:
HP – Edissa Furlan falou um pouco sobre o comunicação interna na gigante de tecnologia. Trata-se de um modelo bem aberto em que a exploração de wikis é grande. Os números da companhia estão expostos – com níveis de acesso, claro – aos colaboradores e a confiança chega ao ponto de permitir que eles possam ser apagados e nunca mais recuperados.
IBM – realmente um fenômeno quando se trata de comunicação interna. Para estimular os colaboradores a usarem todos os recursos, criaram redes e sistemas que se assemelham muito (do ponto de vista da usabilidade) das redes sociais e canais externos. Descentralização da produção de conteúdo é ordem. Orkut proprietário, wikis, fóruns de discussão, intranet que permite que o colaborador personalize a seu gosto, 20 matérias/reportagens produzidas por dia só pela equipe brasileira. Valeu muito conhecer.
Considerações gerais
Pontos negativos – além das falhas tecnológicas, a circulação de pessoas foi menor que nas edições anteriores e o público foi menos participativo. As “palestras” foram interessantes mas realmente não funcionam nesse modelo de evento, direcionam as atenções para uma única pessoa.
Pontos positivos – nível mais alto das discussões que não descambaram para aquele infeliz debate sobre jornalistas x blogueiros. Patamar de conhecimento das agências está equiparado, sejam elas grandes ou pequenas. Apresentação de como funciona a comunicação interna na IBM.
Para entender um pouco de como foi a oficina de jornalismo multimídia, o Paulo Fehlauer escreveu sobre ela também. É só clicar aqui. Algo do que foi transmitido por lá pode ser visto também aqui.
O link de busca do twitter continua ativo para saber o que o pessoal comentou durante o evento.
Se você postou algo e quer compartilhar conosco, passe o seu link nos comentários ou então escreva para evasques@gmail.com.